quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A imaginação


Era um quarto bem grande para um criança. Marcelo conseguia ter uma visão geral de todo quarto quando estava com a cabeça em seu travesseiro. Possuía poucos brinquedos espalhados pelo dormitório e um guarda-roupa gigantesco, assim como também era a cama. Os móveis foram comprados para garantir a duração até quando Marcelo atingisse a adolescência, assim sua mãe não precisaria gastar mais dinheiro por ele não caber mais no seu colchão.

Foi num dia chuvoso que Marcelo recebeu seu primeiro convite para ir ao cinema assistir um filme de terror. Na sala da sessão, com seus colegas de escola, tudo era bagunça e piada. Conseguiram enganar o rapaz da bilheteria, alegando terem esquecido os documentos, e entraram mesmo sendo menores de idade. Garantiram a pipoca com a mesada da mãe e agora começavam a ficar quietos. Parece que alguém se incomodara com as brincadeiras , mas isso não importava mais. O filme iria começar.

As cenas foram assustadoras, mas Marcelo não podia admitir isso e nem transparecer que estava assustado para não ser considerado um frangote. A todo momento lembrava dos espíritos que apareciam pela casa onde o demônio parecia ser o dono. Pessoas que surgiam nas fotos, vultos que transpareciam no espelho, barulhos de pessoas sendo enforcadas, tudo foi criado para mexer com sua fértil imaginação. E os comentários não paravam. Seus colegas insistiam em brincar com as cenas do filme e elaborar possibilidades ainda piores de se pensar.

Sua família já estava dormindo quando chegou em casa. Luzes apagadas. Ele precisava achar logo o interruptor, antes que enlouquecesse de tanto medo. "Cadê a porra do interruptor?" Foi o que ele pensou antes de sentir um sopro no seu ouvido. Acendeu as luzes e olhou para todos os lados. Algo parecia ter passado pelas suas costas. "Merda! Não acredito que estou enlouquecendo! Provavelmente foi uma ilusão." Mentalmente tentava se convencer de que não foi nada, apenas o medo tomando conta de sua razão.

Precisava tomar um banho, mas entre o banheiro e seu quarto, Marcelo preferiu seu quarto. Lá ele poderia se proteger do desconhecido com suas cobertas. E foi o que ele fez. Entrou no dormitório chutando os poucos brinquedos que estavam espalhados no chão, e deitou em sua cama, se cobrindo da cabeça aos pés, mesmo com todo o calor que ainda fazia aquela noite. Deitado, num silêncio absoluto, agora ele ouvia estalos por todas as partes. Uma vez ele leu que isso era resultado da expansão térmica de sólidos e líquidos, mas hoje isso parecia ser coisa do capeta.

A chuva já tinha acabado, mas a força do vento aumentou e agora a janela do seu quarto fazia um barulho como se fosse um assovio do além. "Ahhhh droga!" Ele teria que levantar para fechar a fresta da janela que permitia aquele som. Marcelo não conseguiria dormir assim. Mas e a coragem de levantar? O quarto era muito grande para ficar desprotegido por tanto tempo.

"Coragem, Marcelo". Era o que ele repetia, tentando obrigar sua cabeça a tomar uma atitude contra o medo.

Finalmente ele havia descoberto a cabeça e agora tinha uma visão completa do quarto. O dormitório, que já era grande, parecia maior ainda e o caminho a ser percorrido seria interminável. A janela ficava na outra ponta e o jeito era caminhar com o cobertor para que nenhuma força estranha entrasse em contato.

A aventura ainda nem havia começado e Marcelo tinha tropeçado no lençol. Foi o suficiente para que ele abandonasse seu objetivo e corresse para o quarto da sua mãe. Obrigando ela a acolher o filho naquela noite.

As crianças conseguem se divertir quando se encontram em ambientes considerados chatos por alguns, como mercados, consultórios ou filas de bancos. Eles imaginam que estão em um mundo diferente e assim são bem sucedidos em fugir de ambientes tediosos. Mas essa imaginação não é bem vinda quando a noite chega.


Eurico Donona


     

domingo, 28 de dezembro de 2014

Alberto e Natasha

Ele levanta de sua cama com a mesma preguiça de meses que vem se arrastando. Sem muitas novidades na sua rotina de poucas obrigações, o homem procura escovar os dentes sem muito comprometimento. Desce as escadas de casa para tomar seu café matinal. Coloca o leite para ferver e olha o relógio. São 8:00 horas da manhã de uma sexta-feira.

Alberto é um rapaz que gosta de se divertir como todo jovem que ainda está amadurecendo, mas já possui algumas responsabilidades. Tem objetivos, assim como todo adulto tem, mas com a exceção de não se conformar com as mesmices de um homem que tenha 39 anos. Julgando por essas características, ele deveria ter uma idade entre 25 anos, e hoje queria provar as suas poucas qualidades para conquistar alguém especial.

Enquanto tomava seu café na cozinha, seu celular recebe uma mensagem. Quem seria uma hora dessas procurando sua atenção? A ansiedade não deixou ele terminar o ultimo gole de leite. Pegou o aparelho e verificou que era Natasha. Um antigo amor que tinha virado amizade. Alberto não aceitava tal condição e ainda tentava arrancar alguns suspiros do passado.

Natasha tinha lhe perguntado se ele iria para o ultimo evento do ano na casa de dança em que os dois se conheceram pela primeira vez. Foi assim que Alberto decidiu, de uma vez por todas, comparecer a mais uma madrugada de novos nomes para se gravar e adicionar em seus contatos de possíveis aventuras amorosas.

O combinado era dele ir buscar Natasha em casa. Chovia muito e havia decidido ir pega-la de carro. O trajeto era contramão da balada, mas a companhia compensava todos os infortúnios do trânsito e o silêncio dentro do carro.

Chegando na casa do seu antigo amor, era como reviver o passado. Ela o aguardava no portão, pois minutos antes havia enviado um sms avisando sua chegada. Foi com um pulo, desviando de algumas gotas de chuva que ainda caiam, que ela adentrou no carro. Era estranho como meses de intimidade ainda poderiam causar um certo desconforto, ao tentar iniciar uma conversa agradável. Isso era rapidamente resolvido com algum comentário sobre o passado que os dois viveram juntos.

Natasha agora confessava que estava namorando, mas isso não tinha afetado muito os sentimentos do nosso motorista. O felizardo era, como de costume entre as mulheres, um cara mais velho, e isso sim incomodou Alberto. Ele sendo alguns anos mais jovem que Natasha, se sentirá trocado por causa da idade. Felizmente isso não causou grandes ressentimentos.

A noite estava ótima, como tantas outras em que passavam juntos. O jogo de sedução havia iniciado cedo. Era interessante tentar convencer Natasha que ele ainda merecia uma segunda chance, mas como era comum nos seus encontros com seu antigo amor, as trocas de olhares sempre terminavam em abraços amigáveis. Como seria bom se ela acreditasse que ele tinha mudado, mas não era hoje que ela haveria de perceber isso.

Fim de festa. Alberto reorganiza dois contatos novos em sua agenda e promete a Natasha que irá deixá-la em casa. A conversa sobre as experiências com as novas pessoas que encontraram na balada, ajuda a encurtar o caminho de volta para a casa dela.

A chuva ainda caia de mansinho e Alberto já tinha chegado no seu destino. Com o carro parado em frente da casa de Natasha, agora só restava se despedir. Mais um abraço amigável e ela desce do carro desejando boa sorte no caminho de volta.

Eram 5:00 horas da manhã quando Alberto saiu de onde havia deixado Natasha. Agora não existiria trânsito, mas o silêncio do carro traria novamente os mesmos pensamentos de outros tempos. Será que ainda haveria possibilidade de beija-la? Será que ela ainda o amaria de novo? Quem sabe. Talvez isso nunca acontecesse. O que resta é descobrir se os dois novos contatos poderiam trazer os mesmos sentimentos que um dia ele teve com Natasha.
    

Eurico Donona

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

ADNE

-Eu disse para ela que a amava, e que sustentava uma vontade infalível de dividir minha vida com ela. Ela é inteligente com gênio forte, pavil curto mas muito educada, mas não mexe com ela não. Ter jeito é requisito básico para domar essa fera e ela fere mais do que sai ferida. Eu tomo patada pela manhã, quando ligo pra ela tomo outra patada, quando me encontro com ela mais algumas patadas. Mas quando a gente ama mesmo, nem se importa com a patada, o que importa é que tá feliz a sua amada.
Eu não tenho estilo beligerante, não tomo refrigerante, mas gosto muito de atum. Doidera eu confesso, ela fala isso sempre. E por ser tão simples e calmo acho que me torno um alvo pras patadas da minha amada. Ela ama cachoeira e eu adoro suas besteiras, só adoro porque elas botam um sorriso desbocado no rosto dela. Alguns ousam dizer que ela não é a pessoa certa para mim. No fundo sei que estão certíssimos. Eu não ouso dizer que não porque aguentar a criatura não é fácil. Mas quando penso em sair de perto bate um truculento movimento no peito, que me deixa desconcertado. Penso que é só saudades mas acho mesmo que é amor. Eu não tô com ela pra ser feliz mesmo, me joguei nessa pra fazer ela feliz. Cada patada não chega perto da minha amada. Sua morada é meu coração. As vezes explodo de raiva então vou logo me encontrar com meu Xbox, pra não dizer que tudo é perfeito eu até vejo defeito na dama que vive a me xingar.
Eu digo para irmos para um lugar “A” e ela sempre quer “B”, não tem concordância alguma e eu que não vá para o tal do “B”. Perdi minha liberdade em tão pouco tempo, que as vezes até me arrependo. Mas psiu, se você sentisse seu coração bater tão forte quando visse um sorriso naquele rosto, como o meu sente, você entenderia que o lugar “A” nem é tão importante. Me sinto feliz em vê-la feliz, vou com ela para São Paulo, Minas e Paris. Ela é atrapalhada com as finanças então eu dou um jeito, com carinho e respeito faço a renda duplicar, no final ela me beija e juntos vamos viajar.

Eu não faço a miníma ideia de como vai terminar. Mas nem me importo com o fim, quero mesmo é aproveitar essa jornada doida com ela, segurar a sua mão enquanto ela fala pelos cotovelos. Vou abraçá-la quando brigar com seus familiares, acompanharei ela em museus e até em bares. Ela me completa, não sei se me ama quanto eu a amo, mas nem sempre estive certo se na vida não me engano. A vida me escolheu essa mulher forte pra me tornar forte, e eu sempre disse sim pra Vida.
 
 
Miguel Fontinelli
 

Creio na Guria

Todos procuraram a verdadeira metade da vida.
Ele procurava alguém para amar, se entregar de coração.
Mas não encontrava na procura nem sequer compreensão.
Mulheres belas, vazias por dentro, nem Bom Dia sabiam dar.
Ele desesperado encontrava uma dessas e dispunha a acreditar.
Que amor tolo esse seu diziam os próximos.
Eu pego, fico e como... não amo quem me ama pois isso é insulto.
Geração bruta que destroçou o coração do rapaz sonhador
Mas que nunca fez ele pensar em outra coisa que não fosse o tal do amor.
Já se sentiu bem com a guria só de dar a mão pra ela.
Já se sentiu bem com a guria só de sentar ao lado dela.
Já se sentiu bem com a guria só de vê-la abrir um sorriso.
Se não sentiu é por que nem prestou atenção no jeito.
Tava de olho só no peito
E já era o suficiente pro rapaz se sentir completo
Completo até não sei quando
Por que até um tolo como eu sabe que está se enganando
E sabe-se como vai terminar
Ofensas e mais ofensas sem ninguém se respeitar.
Eu continuo procurando aquela moça tão singela
que só queira me abraçar
que só pense em construir, e porque não somar
Ela pode não existir, eu sei que pensam assim
Mas pra mim todo sonho existi pra guiar e não pra por fim
Então vou sonhar com ela noite e dia
Pois sei que amo essa guria
Mesmo não sabendo onde ela está.
Como é bom amar.



Miguel Fontinelli

Sonhos e Pesadelos

Bom noite!

Essa página é dedicada para contos, poemas, histórias e outros tipos de textos que serão publicados aqui sem muito comprometimento. O objetivo é apenas desabafar ou se divertir. Tudo irá depender da vontade dos administradores. Então não espere encontrar algo que satisfaça o seu apetite por cultura. ;-)


SEJA BEM VINDO!


 
Eurico Donona, Miguel Fontinelli e Capitão BBW